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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

NÃO FORA O MAR



Não fora o mar,
e eu seria feliz na minha rua,
neste primeiro andar da minha casa
a ver, de dia, o sol, de noite a lua,
calada, quieta, sem um golpe de asa.

Não fora o mar,
e seriam contados os meus passos,
tantos para viver, para morrer,
tantos os movimentos dos meus braços,
pequena angústia, pequeno prazer.

Não fora o mar,
e os seus sonhos seriam sem violência
como irisadas bolas de sabão,
efémero cristal, branca aparência,
e o resto — pingos de água em minha mão.

Não fora o mar,
e este cruel desejo de aventura
seria vaga música ao sol pôr
nem sequer brasa viva, queimadura,
pouco mais que o perfume duma flor.

Não fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusão, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.

Não fora o mar
e, resignada, em vez de olhar os astros
tudo o que é alto, inacessível, fundo,
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,
iria de olhos baixos pelo mundo.

Não fora o mar
e o meu canto seria flor e mel,
asa de borboleta, rouxinol,
e não rude halali, garra cruel,
Águia Real que desafia o sol.

Não fora o mar
e este potro selvagem, sem arção,
crinas ao vento, com arreio,
meu altivo, indomável coração,

Não fora o mar
e comeria à mão,
não fora o mar
e aceitaria o freio.

Fernanda de Castro, in "Trinta e Nove Poemas"

fonte google

2 comentários:

Hana disse...

Olá minha flor do campo, sabe quando cheguei em seu blog, fui abraçada pelo seu afeto, amor meu, vc me lembra Cora Coralina, que tanto admiro,esta escritora poetisa que depois dos 60 anos foi descoberta se não me engano por Jorge Amado, e logo ela fez sucesso com seus poemas, minha linda te admiro de hoje em diante e sempre, obrigada pelo seu aconchego, agora te sigo, te leio, aliás aqui leio seu coração, minha gratidão por sua amizade e sua partilha no belo post.
com carinho
Hana

chica disse...

Myuito lindo esse poema!um beijo,lindoi fds,chica

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